A origem de Perus
Perus é um bairro localizado na cidade de São Paulo que tem uma história rica e única. Protegido por morros e pela Mata Atlântica, o lugar tem uma atmosfera de cidade do interior, mas com um clima movimentado. Mesmo que a maioria das pessoas pense em Perus como uma cidade pequena, os moradores têm orgulho de pertencer a São Paulo.
No início, Perus era conhecido como “Sítio Fazendinha”, um lugar estratégico localizado no extremo oeste do distrito da Freguesia do Ó. Era próximo da confluência do Ribeirão Perus com o Rio Juqueri, o que proporcionava uma localização privilegiada. No passado, o bairro era um ponto de parada para tropeiros e boiadeiros que vinham de São Paulo em direção ao interior. A história conta que uma senhora chamada Dona Maria criava perus e fornecia essas aves aos viajantes. O nome “Perus” vem de um acidente geográfico no Ribeirão Perus, onde a água passava por fendas estreitas, produzindo um ruído forte. Os índios Tupis chamavam esse local de “piru”, e ao longo do tempo, a região ficou conhecida como Perus.
A fábrica de cimento e o desenvolvimento de Perus
No início do século passado, a principal riqueza natural de Perus era o calcário, o que atraiu um grupo canadense que inaugurou uma fábrica de cimento em 1926. A fábrica de cimento de Perus tinha uma qualidade excepcional e se tornou uma das principais do país. Durante décadas, o cimento produzido em Perus ajudou a construir o Brasil, sendo utilizado em obras como a construção de Brasília e usinas hidrelétricas.
A fábrica de cimento trouxe empregos para o bairro, principalmente para os imigrantes vindos de regiões como Minas Gerais e Bragança. Além disso, o futebol também ajudou a atrair pessoas para Perus, já que a companhia apoiava os times locais. O cimento de Perus tornou-se tão importante que a produção chegou a atingir 23.000 sacas em 1930. A fábrica de cimento era o principal centro de trabalho do bairro e era responsável pela maioria dos empregos na região.
O movimento sindical em Perus
Com o desenvolvimento da fábrica de cimento, os trabalhadores começaram a se organizar em sindicatos para lutar por melhores condições de trabalho. Em 1958, o sindicato de Perus surgiu com força, questionando a maneira como a empresa era gerida. O envolvimento dos trabalhadores com o movimento sindical foi tão intenso que acabaram sendo divididos em dois grupos: os “pelegos” e os “queixadas”.
Os “pelegos” eram aqueles que estavam do lado do patrão e até voltaram a trabalhar sob grande pressão. Já os “queixadas” eram os que resistiram e continuaram lutando pelos direitos dos trabalhadores. Em 1962, ocorreu uma greve histórica em que os operários de Perus conseguiram assumir o controle da fábrica por 7 anos e 4 meses. Essa greve foi a mais longa da história do movimento operário no Brasil e teve grande importância no contexto da ditadura militar.
A poluição e a luta pela preservação
Além dos problemas enfrentados pelos trabalhadores, os moradores de Perus também tiveram que lidar com a poluição gerada pela fábrica de cimento. A fábrica despejava 70 toneladas de pó diariamente sobre o bairro, causando diversos transtornos. As casas ficavam cobertas de poeira e o pó de cimento chegava a estourar as telhas, causando vazamentos.
Em 1983, a paróquia de Perus convocou lideranças locais para lutar contra a poluição. Foi realizada a primeira passeata ambientalista ecológica do país, e a pressão popular conseguiu fechar a fábrica de cimento em Perus. Em 1992, a fábrica foi oficialmente desativada, mas seu fechamento já havia sido gradual ao longo dos anos. O encerramento das atividades da fábrica marcou o fim de uma era e criou um impacto significativo na população de Perus.
O Parque Anhanguera e a preservação ambiental
Perus não é apenas conhecido pela sua história industrial, mas também por sua natureza exuberante. O bairro abriga o Parque Anhanguera, o maior parque municipal de São Paulo. Com uma área de aproximadamente 9 milhões de metros quadrados, o parque preserva a Mata Atlântica e é um refúgio para diversas espécies de animais.
O Parque Anhanguera é um reduto de fauna e abriga uma grande diversidade de mamíferos, aves e répteis. Além disso, o parque conta com o Centro de Reabilitação de Animais Silvestres, que tem como objetivo recuperar animais feridos e reintegrá-los à natureza.
A ferrovia e a memória de Perus
Perus também possui uma forte tradição ferroviária. A região é atravessada pelos trilhos da antiga Estrada de Ferro Santos-Jundiaí e abriga uma das únicas ferrovias do mundo com bitola de apenas 60 cm, a Perus-Pirapora. Essa ferrovia foi construída para transportar cimento da fábrica de Perus até a estação de Perus, onde era transferido para outros destinos.
Atualmente, o Instituto de Ferrovias preserva a memória da ferrovia Perus-Pirapora e trabalha para revitalizá-la. O encontro de amigos e entusiastas da ferrovia acontece regularmente, e a esperança é que as futuras gerações possam conhecer e apreciar essa importante parte da história de São Paulo.